O telefone tocou na sala. Eu levantei da cama, peguei minha bengala e caminhei lentamente para atende-lo! Meu neto. Que saudade eu estou de ve-lo, abraçá-lo, beijá-lo. 

A quarentena para uma pessoa idosa que mora sozinha é cruel. As horas não passam, não há com quem conversar, e ainda há a barreira da tecnologia. Eu tenho 87 anos, e ganhei meu primeiro smartphone… o celular dessa garotada.

Meu neto me diz que quer fazer uma chamada de vídeo com a família e ele vai me ensinar como eu faço para participar. Chamada de video… vi na televisão que é a nova forma de relacionamento. A febre mundial anti-distanciamento social.

Ele fala de download, apps, install, whatsapp, login… tudo grego pra mim. Mas vou seguindo os passos até finalmente conseguir abrir uma janela – que não tem paisagem do outro lado – com uma foto da família. Que bom ver minhas bisnetas, meu filho, meus netos mesmo que em uma foto. 

Agora ele me diz para ficar de olho no celular, que ele iria me “chamar”. Aparece uma ligação dele para o celular. Eu aperto o botão verde, conforme ele me explicou e, imediatamente, sinto meu coração aquecer! A imagem dele se forma na tela. Minhas bisnetas no colo… meus olhos se enchem de lágrimas.

Alguns segundos depois, a tela se divide em quatro, meu filho e meu outro neto aprecem. É muita emoção junta ao mesmo tempo! Fico com medo até de infartar. Então, desando a falar. Pessoa idosa é assim quando fica muito tempo sem conversar e na chamada todos escutam silenciosamente e eu sem perceber que meu aparelho auditivo está desligado digo que a ligação está baixa coisas de gente velha, né?!

A chamada de video dura cerca de 15 minutos. Ela é meio confusa, não escutei quase nada. Pessoas ficam falando ao mesmo tempo, uma confusão só. Parece até almoço de domingo de família. É, talvez esteja aí a resposta para ela fazer tanto sucesso.