Toda manhã, o mesmo ritual. Ele preparava eu sanduíche de toda manhã. Abria o pão, passava o requeijão milimetricamente de forma que não sobrasse um milímetro de pão. Depois, o queijo  – em boa quantidade para derreter – e pra finalizar o presunto – fatia fina, para sentir mais o gosto do queijo.

Sentia a diferença da decisão que tomaram juntos. Na mesa, um prato, uma caneca. Uma saudade.

Procurou conforto nas páginas do jornal, nada. O mundo estava muito mais complicado do que sua vida. Não havia esperança naquilo que lia. 

O silêncio tortuoso revelava os dias que estavam por vir. Nenhuma novidade para um escritor, habituado a ouvir apenas sua voz interior. Ele sempre se deu bem com a solidão, mas dessa vez algo estava errado.

A casa que escolheu parecia ter tudo que precisava: paz, tranquilidade, sons apenas da natureza. Mas… ao abrir a varanda, o barulho do rio que passava ao lado soava como Nirvana tocando Smells Like Teen Spirit. 

Seus demônios começaram a sair à medida que as palavras ganhavam forma. Era uma obra diferente, essa que ele se isolara para escrever. Não era sobre amor. Havia muita dor presente.

A cabeça estava longe. A caminhada no gramado o fez imaginar as crianças correndo e brincando. As velas na mesa, o fizeram sonhar com um jantar que não aconteceria. 

A única coisa que pensava era: por que saíra? Quando a porta se abriu aquele dia, ele não imaginava a mudança que a vida lhe preparava. A dor que ela trazia junto. Nunca mais as veria. Tudo por causa de um bar, um encontro com os amigos, seu egoísmo. Por que saíra?