Contar histórias é dom? Tem gente que praticamente nasce sabendo criar personagens, histórias, universos e tramas. Minha filha de 7 anos é apaixonada por histórias desde bebê. Quando começou a falar e brincar com bonecas, as primeiras histórias e diálogos começaram a ser criados. Era ela aflorando seu lado criativo, inventivo e, por quê não, escritora.

Observando a brincadeira dela e, muitas vezes, participando das histórias, voltei ao tempo para lembrar quando comecei a me apaixonar por texto e escrever. E me dei conta que também adorava inventar histórias, universos e personagens nas minhas brincadeiras. Acho que foi uma herança do meu avô materno Afrânio e do meu padrinho Sebastião, que adoravam criar e contar piadas.

O tempo passou, virei jornalista – uma escolha meio óbvia para quem gostar de ler, escrever e contar histórias. O desafio agora era outro, trabalhar com fatos, com notícia, com o mundo real. Os personagens eram em carne e osso, tinham um passado, sentimentos de verdade…e a história que eu contava impactava a vida de muitas pessoas que assistiam. Surgiu a responsabilidade com o que se escrevia.

O jornalismo me ensinou muito, assim como a literatura – base para se obter conhecimento, cultura, vocabulário. Mas o fascínio pelo cinema me fez entrar no mundo do documentário: o jornalismo do cinema ou o cinema de jornalismo. O universo das histórias reais, com personagens reais que impactam vidas e nos mostram uma realidade muitas vezes nua e crua que não queremos – ou fingimos – não ver.

Diferentemente do jornalismo diário, o documentarista consegue ter tempo para uma pesquisa aprofundada, mergulhar em uma história e se envolver com ela a fundo. Ele consegue sentir que faz parte daquilo que está realizando. Mais do que isso, ele tem o controle e o recorte que quer dar para aquela história. Sim, o documentário é uma visão sobre os fatos que estão sendo narrados.

Nos últimos dois anos, lancei dois documentários: As Copas por um clique (2018) e Radar! Um time! Uma nação (2019). Ambos com o esporte como pano de fundo – afinal minha carreira jornalística foi em grande parte no universo do esporte. Mas os dois filmes tinham como principal objetivo mostrar o lado humano, desafiador, pioneiro de pessoas comuns que lutaram por seus sonhos, que realizaram seus sonhos, que abriram portas, que inspiraram e inspiram pessoas a seguirem em frente até hoje.

As duas produções foram completamente independentes. Cinema de guerrilha, cru, daqueles que você faz porque acredita em você e em quem está embarcando naquele projeto contigo. Sem meus amigos Douglas Lima, Marcelo Pizzi, Felipe Aires, Anna Saab e Cláudia Catherine seria impossível realiza-los.

Confesso que os dois documentários mexeram muito comigo como pessoa. Bebi um pouco da pesquisa que tive de fazer para os dois documentários, da produção, de cada entrevista e personagem e trouxe muito deles para minha vida. Hoje é difícil lamentar, reclamar e não acreditar que é possível sim fazer o que se gosta com tempo, com amor e principalmente equilibrando sua vida profissional e pessoal.