Pareciam troncos de árvores. E suas camadas se desfazendo e revelando sentimentos que eu nem imaginava  existirem. Foi o que você me disse quando nossos olhos se cruzaram. Naquele momento me senti nu.

Não o nu carnal. Até porque, a nudez carnal é simples, não se precisa descamar, apenas despir pedaços de panos. E eu não quero o simples. 

Eu estou falando de um nu profundo, revelado por esse tecido antivírus que esconde o brilho anterior ao som das palavras. Sim. Porque eu sempre achei que a verdadeira nudez do homem se revela nos olhos e com os olhos. Mas havíamos esquecido disso.

Tanto que quando você me desnudou, eu quis ficar cego. Sim, porque os olhos falam. E, às vezes, até demais. Então melhor que se calem.

Curioso precisarmos logo de um pedaço de pano para desnudarmos nossa alma. 

A sua, eu também percebi naquele dia. Nunca havia reparado que você tinha sua própria tempestade a te guiar. Imponente, desafiadora, assustadora. 

Mas o mesmo pedaço de pano que desnudou nossa alma, afastou-nos em carne. Ficamos com os sentimentos. E que mal tem ficarmos com eles?